“A Editora Landmark acaba de lançar a primeira edição bilíngüe do poeta inglês John Donne. No livro “”Meditações””, o mais incisivo dos poetas metafísicos reúne reflexões em relação à perenidade da vida e à preparação do corpo e do espírito para a morte. Contemporâneo de Shakespeare, Donne mostra estilo. Tem dinâmica específica, complexa e riquíssima de mistérios, numa escritura que espanta e emociona. Apesar de se distanciar da beleza poética dos famosos versos “”deixa que minha mão errante adentre/ Atrás, na frente, em cima, embaixo/ entre/ Minha América, minha terra à vista/ Reino de paz, seu um homem só a conquista”” – traduzidos por Augusto de Campos, tranformados em música por Péricles Cavalcante e até cantados por Caetano Veloso – “”Meditações”” mostra o vigor da obra escrita, quando Donne estava gravemente doente. Sem perder o fôlego, o bardo pula da poesia amorosa para a secular e religiosa, produzida na maturidade. Dono de estilo barroco, seu texto ganha a marca e o sabor de metáforas e do simbolismo religioso pungente, argumentativo e extremamente inteligente. “”Meditações foie scrito como parte de uma obra maior, Devoções para Ocasiões Emergentes. Como todo grande artista (o poeta aventureiro, ao herdar um bom dinheiro, cai literalmente na estrada), Donne traz dentro de si os acordes da angústia. Ele sabe que da vida só temos a noção do incerto. Senhor dos sinos, cutuca funduras quando escreve: “”Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado; todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de seus amigos ou o seu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós””. A mensagem inspirou o colega Ernest Hemingway, no livro “”Por quem os sinos dobram””, sobre a guerra civil espanhola. E não tardou a chegar ao cinema, no filme estrelado por Gary Cooper e Ingrid Bergman. Trata-se de literatura propícia. Fonte inesgotável para assustar – e afastar – para bem longe a leva descarada e medíocre de autores de auto-ajuda contemporâneos que trabalham e escrevem com as tintas do extrato bancário. Tradição é palavra que caiu em desuso. Pois não devia. O que faz com que um autor se torne clássico? “”Meditações”” está sendo lançado em ótimo momento (mas tardiamente, pois a edição original é de 1624) e a editora que se especializou na publicação de grandes autores, como Shakespeare e Oscar Wilde, entre outros, prepara para até o fim do ano mais seis lançamentos. John Donne nasceu em 1572 e dos maiores poetas ingleses. Grande teólogo, também ficou famoso por seus sermões. Fascinado pela morte, declamou o que foi chamado de seu próprio sermão funerário, “”Duelo da Morte””, algumas semanas antes de falecer em Londres, em março de 1631.”
O ESTADO DE MINAS