“Ana Cristina Pereira
Publicado originalmente em 1847, o romance O Morro dos Ventos Uivantes comemora 160 anos com fôlego renovado. Recebido inicialmente com duras críticas, o livro foi se estabelecendo como clássico de literatura gótica, ganhando sucessivas reedições e adaptações para tevê, teatro e cinema, mundo afora. A nova tradução brasileira chega ao mercado através da editora Landmark, com o diferencial de ser a primeira bilíngüe português/inglês.
A versão possibilita ao leitor checar como Emily Brontë (1818-1848) construiu as estruturas originais de Wuthering heights. Logo nas páginas iniciais, a autora cria a atmosfera sombria e envolvente, ao descrever o Morro dos Ventos Uivantes como um lugar isolado e acometido por um “tumulto atmosférico”, principalmente no período das fortes tempestades. Cenário ideal para se desenrolar a trama de mistério, paixão, ambição, sofrimento e vingança, não necessariamente nesta ordem. Em texto de 2004, o escritor e crítico Cristóvão Tezza afirma que o romance pode ser lido como uma síntese da literatura do sobrenatural. “A sugestão do terror e a condenação escura ao sofrimento, sobre a aura incestuosa de uma família que não se livra de sua própria maldição, fizeram da obra de Emily Brontë um dos maiores sucessos da história do gênero”, anota. A família está no cerne da narrativa. Seu desajuste produz a figura embrutecida de Heathcliff, órfão adotado em Liverpool pelo fazendeiro proprietário de Wuthering Heights, pai de Catherine e Hindley. Nunca aceito inteiramente, o garoto desencadeia o ciúme no irmão e nutre um amor, correspondido mas nunca realizado, pela irmã. Com a morte do pai, ele sofre as piores humilhações e vê Catherine se casar com o filho de uma família abastada que mora ao lado.
Heathcliff vai embora, mas promete voltar rico, para executar seu maquiavélico plano de vingança, o que inclui adquirir todas as terras da região. A trama rebuscada, contada em flash back, acompanha duas gerações da família e tem dois narradores distintos, uma inovação à época: um é o senhor Lockwood, que aluga a fazenda ao lado de Ventos Uivantes e começa a meter o bedelho no passado alheio, querendo entender Heathcliff, aquele “homem exageradamente reservado”, e conhecer seu passado. A outra narração é a da governante Nelly, testemunha ocular da história, que a partir de certo ponto passa a contá-la a Lockwood.
Analisando os motivos de sedução do livro melodramático de Emily Brontë, Cristóvão Tezza afirma que seu toque diferenciado está no “paradoxo de um mundo escuro, regido sobre sombras assustadoras de velas e lampiões e sob os ventos aterrorizantes do espaço rural, submetido sobre o ideário das luzes e da modernização, com a emergência de novos padrões de relações humanas”.
Se fizermos um paralelo com a vida da autora, podemos encontrar o mesmo tipo de paradoxo. Emily era filha de um reverendo, que criou os cinco filhos com severidade. Duas de suas irmãs morreram precocemente num rigoroso colégio interno e o irmão, o pintor Patrick, se perdeu na bebida. Mas Emily e as irmãs Charlotte (autora do livro Jane Eyre) e Anne (Agnes Grey) buscaram alternativas na literatura, tornando-se escritoras famosas.
O clássico no cinema
A PRIMEIRA adaptação cinematográfica de O Morro dos Ventos Uivantes se tornou um clássico. Dirigido por William Wyller em 1939, tem o elenco encabeçado por Laurence Olivier, que vive o enigmático Heathcliff. O filme, que recebeu sete indicações ao Oscar, levou o prêmio de melhor fotografia P&B. EM 1970, houve uma segunda versão, com direção de Robert Fuest e centrando o drama no amor juvenil e impossível de Heathcliff (Timothy Dalton) e Catherine (Anna Calder-Mardhall).
O DIRETOR Kiju Yoshida, em 1988, transportou a trama para o Japão medieval, utilizando técnicas do teatro nô. Apesar das diferenças culturais, é a mesma história de poder, ambição e amores impossíveis. Os personagens principais ganham os nomes de Yamabé (o jovem adotado) e Kinu.
FILMADA em Yorkshire, terra da autora Emily Brontë, a versão de 1992 é a primeira adaptação que apresenta a história completa de duas gerações das famílias Earnshaw e Linton. Dirigida por Peter Kosminsky, tem as estrelas Ralph Fiennes e Juliette Binoche nos papéis centrais, sendo que a atriz interpreta Catherine Linton e sua filha Cathy Earnshaw.
EM 2003, o clássico se tornou um musical juvenil, pelas mãos de Iuri Krishnamma. O jovem revoltado, agora um sem-teto, depois de adotado e humilhado, consegue fama e dinheiro se tornando um astro do rock. NO BRASIL, O Morro dos Ventos Uivantes foi uma novela de Lauro César Muniz, exibida em 1967, na TV Excelsior.
FICHA
Livro: O Morro dos Ventos Uivantes Autora: Emily Brontë Editora: Landmark Tradução: Ana Maria Oliveira Rosa e revisão de Carolina Caires Preço: R$ 45 (304 páginas, bilíngue português/inglês) ”
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