“FIM DO MUNDO O ROMANCE É CONSIDERADO O PRECURSOR DE UM GÊNERO CONHECIDO COMO FICÇÃO PÓS-APOCALÍPTICA Por TIAGO ZANOLI Inédito no Brasil, “O Último Homem”, de Mary Shelley, ganha edição bilíngüe Escrito pela autora britânica Mary Shelley e publicado na Inglaterra em 1826, dividido em três volumes, “O Último Homem” é considerado o romance precursor de um gênero conhecido como ficção pós-apocalíptica, que retrata o fim da civilização por meio de alguma catástrofe. Na obra em questão, uma peste extermina toda a população do planeta, e somente um homem sobrevive para contar essa história. Mary Shelley é mais conhecida por “Frankenstein”, clássico da literatura de horror e de ficção-científica (também considerado pioneiro nesses dois gêneros). Ofuscado pelo sucesso da história do cientista Victor Frankenstein e de sua famosa criatura, “O Último Homem” permaneceu inédito no Brasil até outubro deste ano, quando a editora Landmark publicou uma edição bilíngüe da obra. MEMÓRIAS: Assim como em “Frankenstein”, Shelley prioriza em “O Último Homem” a narrativa em primeira pessoa. Ambientada no século XXI, a história é contada como as memórias de Lionel Verney, o único sobrevivente da Terra, desde o seu nascimento até os últimos momentos da humanidade, destruída por uma peste. Imune à doença, Verney testemunha a morte gradual de todas as pessoas à sua volta. Leitores mais afoitos podem se decepcionar com o livro, uma vez que a autora optou por não ir direto ao tema que dá título à obra. Até chegar ao ponto culminante da história, quando a população começa a morrer, Shelley percorre um longo caminho, entremeado por subtramas envolventes, que abordam, por exemplo, disputas pelo poder político do país, amores ardentes e até uma guerra entre gregos e turcos. Ao longo do percurso, a autora mergulha fundo na alma dos principais personagens, entre os quais é possível identificar pessoas reais, intimamente ligadas à escritora. Seu marido, Percy Shelley, e o amigo Lorde Byron (ambos poetas famosos) ajudaram a moldar, respectivamente, os fictícios Conde Adrian e Lorde Raymond. Há também a personagem Clara, filha de Lionel Verney, batizada com o mesmo nome da primeira filha de Mary com Percy, que morreu pouco depois de nascer prematura e doente. SOLIDÃO: A idéia central do romance, que dá título ao livro, também pode ser compreendida como metáfora para o próprio estado de espírito da autora, solitária após suas perdas pessoais. Além da filha, morta em 1816, Mary Shelley perdeu o marido em 1822 e o amigo Byron, dois anos mais tarde. “O Último Homem” foi concebido nove anos após o lançamento de “Frankenstein”. Nele, Shelley constrói uma visão do futuro, descrita a partir de manuscritos proféticos, supostamente encontrados pela autora em uma caverna em Nápoles, na Itália, e nos quais é apresentado o fim da humanidade. Esses escritos seriam as folhas da Sibila de Cumas, personagem da mitologia grega que anotava em folhas de papel o que o deus Apolo lhe sussurrava sobre os fatos do futuro. Leia sem parar “O Último Homem”, de Mary Shelley. Editora Landmark, 496 páginas (edição bilíngüe). Quanto: R$ 51,50 (em média).”
A GAZETA DE VITÓRIA ES