“A editora Landmark lança, agora, no mercado, o seu 24º título da Coleção “”Grandes Clássicos em Edições Bilíngues””, com o romance, de tendência realista, Norte e Sul, em que o leitor irá palmilhar a atmosfera descortinada pela Revolução Industrial, bem como acompanhar dramas individuais, uma vez que a construção da estrutura ficcional vai ao encontro das tendência s cultivadas àquela época

Antes, destaque-se a primorosa tradução de Doris Goettems, não só no que tange à escolha vocabular, seguindo o rastro do texto original, bem como o ritmo da escritura, com suas frases que primam pela linearidade e se mostram curtas, incisivas, ainda que os períodos possam ser longos, uma vez que o emprego das orações subordinadas não implica, necessariamente, que o texto seja retorcido. Sendo assim, tudo flui com naturalidade, espaço e personagens se apresentam nitidamente aos olhos do leitor.

No século XIX, o romance – enquanto gênero – sedimentava-se em duas preocupações básicas: a problemática social e a caracterização psicológica. Com isto visava abarcar o mundo: a relações sociais das personagens são as leis de sua verossimilhança; e o retrato psicológico reproduz as zonas obscuras da mente. Nesse sentido, o romance era concebido como um microcosmo, isto é, uma redução e explicação do mundo real, já que são objetos de análise tanto a sociedade quanto as criaturas.

A leitura dos romances do Realismo-Naturalismo, por exemplo, implica o conhecimento unitário da realidade: as partes da narrativa estão plenamente delimitadas, são absolutamente visíveis; reunindo as partes, o leitor vê-se diante do todo. Tudo gira em torno da problemática inaugurada pelo Romantismo: o conflito entre o eu e o mundo, ou seja, o inevitável embate entre o indivíduo e o grupo social.

Em ´Norte e Sul””, o interesse da narrativa recai sobre os contrastes, de natureza social e econômica, por que será tocada a Inglaterra, como uma natural consequência do processo impelido pela Revolução Industrial: de um lado, a gente do Norte, impregnada pelas promessas de um novo mundo, voltado para a produção em série,de que o dinheiro é o novo deus, e o império do capital, passo a passo, vai demarcando o espaço da burguesia; por outro, as comunidades rurais do Sul, ainda cultivando o sonho da vida bucólica, a crer na felicidade idílica.

A protagonista da trama é Margaret Hale; esta, nascida e criada no Sul, impregnada de sentimentalismos e bucolismo, entra, abruptamente, em contato com outra realidade – a do sofrimento da gente miserável – quando o pai, por conta de responsabilidades de religioso, é transferido para a cidade de Milton; em pouco tempo, ela, antes tão íntima das ilusões e das fantasias – descobre que a vida, a rigor, é um triste espetáculo: “”Margaret sentava-se absolutamente calada. Como poderia algum dia voltar para o seu conforto, e esquecer a voz desse homem, com seu tom de inexprimível agonia, contanto sofrimentos que nem as palavras conseguiam descrever?”” Dentro dela, agora, tudo são dolorosas lembranças e, diante disso, muitas obrigações.

Como é singular às narrativas realistas, do ponto de vista estilístico, destacam-se a valorização das minúcias – fruto do agudo senso de observação da realidade – e o gosto pelo mergulho na intimidade das personagens. Há momentos de descrições precisas, sempre entrelaçadas à narração: “”Grandes conjuntos de alabastro ocupavam as superfícies planas, protegidos da poeira por cúpulas de vidro. No meio da sala, justo embaixo do candelabro também coberto, ficava uma grande mesa circular, com livros finamente amarrados dispostos a intervalos regulares ao redor da sua superfície polida, lembrando os raios coloridos de uma roda””.E a tudo isso se mostra indiferente a protagonista.

Sensibilizada pelo mundo de miséria, de extrema carência, a que passa a conhecer, entra, cada vez mais, em contato intenso com essa gente; conhece, então, John Thornton – industrial, dono de uma fábrica de tecidos. Os dois se apaixonam um pelo outro; no entanto, o modo por que cada um deles vê o mundo faz com que entrem em constantes pelejas, e os caminhos que se abrem diante dos dois serão tortuosos. ”

DIÁRIO DO NORDESTE (CE)