“Lançado há 200 anos, ‘Orgulho e Preconceito’ segue como um dos mais populares romances da literatura estrangeira
Por Andréia Silva e Carol Cunha
Jane Austen já havia lançado um livro, Razão e Sensibilidade, quando publicou aquela que seria a sua mais famosa obra, Orgulho e Preconceito. Embora fosse uma autora conhecida, foi o segundo trabalho, lançado em 1813, que a colocou no rol das escritoras mais populares da Inglaterra. Esse mesmo livro completa agora 200 anos, como um dos romances mais populares da literatura estrangeira e que faz de Austen uma “avó dos chick-lits”.
O segredo do sucesso de Orgulho e Preconceito está nos personagens bem construídos, especialmente os protagonistas, Mr. Darcy e Elizabeth; no contexto que aborda as diferenças sociais, a educação das mulheres e os arranjos da sociedade da época; e na ironia que a autora carregava, como mostra a primeira frase do manuscrito do livro, que, ainda sob o nome de First Impressions (Primeiras Impressões), foi rejeitado pelo editor: “É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa””.
“Tive contato com a obra de Austen durante as aulas de Literatura Inglesa, no curso de letras da UFMG, e Mr. Darcy me chamou a atenção porque, em sua apresentação, ele tem tudo para ser um herói romântico, mas que se mostra um pouco diferente daquilo que esperamos a princípio”,conta Adriana Zardini, presidente da sociedade Jane Austen do Brasil, especialista na obra da autora e tradutora de três livros da inglesa (Emma, Razão e Sensibilidade e Mansfield Park).
Para Adriana, Darcy “não é o personagem com o qual você se apaixona ou identifica imediatamente se você toma partido por Elizabeth Bennet, por exemplo”.
A história é daqueles romances fáceis de seduzir. Um cavalheiro rico conhece uma moça de classe mais baixa, independente, irônica, segunda de cinco irmãs, que renega o amor arranjado em tempos onde as mulheres tinham pouco poder para escolher seus pares, tarefa que ficava a cargo da família. A fortuna e educação de Darcy também não são suficientes para seduzir Elizabeth, uma inglesa do tipo difícil. Ele, orgulhoso, não vê como se relacionar com ela devido às diferenças sociais. Da repulsa, nasce uma atração repleta de ironias, bom humor e declarações de amor disfarçadas de ambos os lados.
Gosto como [o livro] eleva os meus padrões para a vida real (risos). É a história, os personagens, a época, os diálogos e Mr. Darcy””, diz a estudante Danielle Gabioli, 21, fã da autora inglesa, cuja relação com a obranos faz lembrar de uma frase do escritor inglês G. K. Chesterton, que diz que””os romances de Jane Austen são aqueles em que nos perdemos”.
O título de “avó dos chick-lits” – romances com protagonistas mulheres dividindo-se entre a carreira e o amor, sempre em busca de um “Mr. Darcy” – não é em vão. Entre esses novos títulos e os trabalhosde Austen, alguns elementos são comuns. “”A trama da heroína que se apaixona inicialmente pelo homem ideal, mas logo após descobre sua verdadeira índole e se surpreende ao descobrir que alguém que sequer gostava (ou mesmo odiava) é a pessoa ideal, é bem comum””, comenta Danielle, ao falar das referências nos livros atuais.
Com Orgulho e Preconceito, Austen não só emplacou o livro, mas criou um dos mais populares personagens dos romances. Cavalheiro, orgulhoso, dono de posses, preconceituoso à primeira vista, mas com um senso de justiça admirável, Mr.Darcy tornou-se um modelo de personagem romântico na literatura. Einspirou outros mocinhos no estilo Austen.
“O meu livro favorito é Persuasão – último livro completo escrito por Jane Austen – que nos conta um amor que prevalece mesmo após anos de distanciamento, e quando eles [o casal de protagonistas] se reencontram, os sentimentos voltam com força total. Nesse livro, o personagem principal é o capitão Wentworth, o meu favorito dos mocinhos de Austen. Creio que ele encanta muitos leitores por ser um homem honesto, esforçado e irresistivelmente romântico”, conta Adriana.
Além de inspirar outros personagens da própria autora, Mr. Darcy serviu de base também para Marc Darcy, do livro O Diário de Bridget Jones. Curiosamente, coube a Colin Firth interpretar os dois Darcy:o primeiro na série da BBC inspirada no livro de Austen, em 1995, e depois o filme ao lado de Reneé Zellweger. Adaptações como essa – sem contar o filme de 2005, com Keira Knightley e Matthew Macfadyen no papel do casal de protagonistas – ajudaram a popularizar ainda mais o livro, que ganhou versões infantis e até uma com zumbis, que inicia a história com a frase: “”É uma verdade universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros””.
Os 200 anos da obra não vão passar em branco para as editoras. Entre os lançamentos previstos para este ano, estão edições bilíngue de luxo em capa dura de Orgulho e Preconceito, uma nova tradução de Mansfield Park, Emma, Abadia de Northanger e Persuasão pela editora Landmark, e ainda Mansfield Park e Emma, pela L&PM. “PORTAL SARAIVA CONTEÚDO