“Romance “”Mansfield Park”” é relançado em edição bilíngue

Esta é a mais controversa obras da inglesa Jane Austen, autora de “”Orgulho e Preconceito””

“”Orgulho e Preconceito”” é a obra mais famosa da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817). Mas isso, de maneira alguma, minimiza a qualidade ou relevância de seus outros cinco títulos — “”Razão e Sensibilidade””, “”Mansfield Park””, “”Emma””, “”Persuasão”” e “”A Abadia de Northanger””. Entre todos, “”Mansfield Park”” é considerado o mais controverso, principalmente quando o assunto é a protagonista Fanny Price, uma garota órfã que, aos 10 anos, é “adotada” pelas tias ricas.

Ao contrário das demais heroínas de Austen, Fanny é surpreendentemente contida e passiva, exatamente o fato que tem aturdido por décadas os críticos e os fãs da autora. Mais do que isso, a própria mãe da escritora considerava a jovem “insípida”, como provam algumas cartas.

Ainda que o livro aborde vários temas, carregado de conflitos que envolvem amor e contratos sociais, escravidão e civilidade, riqueza e autopercepção, a principal questão é a busca da identidade e do verdadeiro amor. E, ainda assim, “”Mansfield Park”” é provavelmente o menos romântico e o mais pragmático dos livros de Austen. E já se vão 200 anos desde o lançamento da obra.

Em comemoração, a editora Landmark lançou uma exclusiva edição de luxo bilíngue em capa dura — inglês (552 págs., R$ 48,00), com nova tradução de Vera Silvia Camargo Guarnieri.

Escrito entre os anos de 1811 e 1813 e publicado anonimamente, como todas as demais obras da autora, em 1814, mais do que polêmico, “”Mansfield Park”” foi o romance mais lucrativo de Austen quando ela o lançou. Todos os exemplares publicados foram vendidos em seis meses, garantindo à autora 350 libras, uma verdadeira fortuna na época.

Adaptações

A história, muito e muitos anos depois, foi adaptada para as mais variadas mídias. Na televisão, as versões mais conhecidas são as de 1983 e 1990, produzidas pela rede de TV britânica BBC. Mas há também produções norte-americanas, como o filme de 1999, estrelado por Frances O””Connor e que no Brasil ganhou o título de “”Palácio das Ilusões””. “”Mansfield Park”” ainda virou uma ópera composta por Jonathan Dove, com libreto de Alasdair Middleton, cuja primeira apresentação ocorreu no Heritage Opera em 30 de julho de 2011. No teatro ainda há a adaptação realizada por Tim Luscombe para o Theatre Royal, em Bury St. Edmunds.

Semelhanças históricas

A professora Adriana Zardini, fundadora do blog Jane Austen Brasil, que conta com mais de mil visitas diárias, revela uma curiosidade sobre a obra. “Vendo um programa sobre a escravidão na Inglaterra, descobri que um Lorde com o sobrenome Mansfield foi um dos pioneiros em julgar casos de libertação dos escravos, dando a causa a favor deles. E isso aconteceu exatamente na época em que Jane viveu e escreveu as obras.”

O fato citado é o Julgamento de Mansfield, a decisão inglesa legal e histórica tomada pelo chefe da Justiça Lorde Mansfield, segundo a qual foram estabelecidos os primeiros limites quanto à escravidão na Inglaterra. Alguns críticos internacionais já divulgaram essa mesma observação, dizendo a ligação é evidente porque, no romance, Fanny surpreende sua família adotiva ao levantar a questão sobre o envolvimento deles com a escravidão. As cartas de Jane Austen escritas na época informam ainda de uma paixão por Thomas Clarkson, um popular abolicionista, o que justificaria o envolvimento da autora com estas questões sociais.

Mesmo sem qualquer tipo de comprovação entre os fatos com o livro, Adriana, que é fornada em Letras e analisa os títulos da escritora há anos, sempre defendeu que os nomes dos personagens são extremamente simbólicos. “Não tenho como entrar na cabeça dela (Austen) para saber o que realmente ela quis passar, mas sinto que ela foi deixando dicas para a gente compreender a sua obra. A cada leitura, eu observo novos detalhes, o que gera, automaticamente, novas analogias.”

Por Fábio Trindade”JORNAL CORREIO POPULAR, CAMPINAS (SP)