“Bram Stoker publicou seu romance “Drácula” em maio de 1897, estruturando-o como um romance epistolar, escrito a partir de uma série de cartas, relatos, diários pessoais, reportagens de jornais, registros de bordo etc. A solução narrativa do autor foi brilhante: narrar a história a partir dos diários e memorandos de seus protagonistas, com isso as confissões e desesperos dos envolvidos na trama vão dando forma ao perigo, que só muito depois se torna completamente evidente. Ele nos apresenta também os costumes, tradições e a cultura da Inglaterra vitoriana e a reação dos britânicos com relação ao que vem do estrangeiro, personificado através do medo arquetipiano da figura do vampiro. Nesse sentido, a realidade do racionalismo britânico entra em choque com o sobrenatural, explicitado através das figuras opostas de Drácula e de Van Helsing, ambos estrangeiros e pertencentes a sociedades estranhas aos costumes britânicos. A atmosfera gótica é o pilar do romance: a maior parte da história se passa na Inglaterra, berço da civilização industrial e para onde o Conde se dirige com o intuito secreto de conquistar o mundo, o que é apenas sublimado ao longo da narrativa. Quando o conhecimento científico encontra seu limite para lidar com os fatos, resta o conhecimento popular. É desse conhecimento que Van Helsing tira os procedimentos necessários para acabar com o vampiro. As dicotomias entre as figuras do bem e do mal são figuradas nos personagens humanos e nos vampiros. O único contato entre os universos é a sensualidade e o erotismo.

Contudo, o medo de vampiros é anterior à publicação da obra de Stoker, tendo já aparecido em 1819, na obra “O Vampiro”, de autoria de John Polidori (1795-1821), contemporâneo de Mary Shelley e de Lorde Byron, entretanto, a propagação do mito e do medo e a inspiração para milhares de outras fabulações sobre vampirismo devem-se, e muito, ao romance “Drácula”. O personagem principal, que é apresentado indiretamente através das narrativas dos demais personagens, pode ter sido inspirado na vida do príncipe Vlad Tepes, cuja crueldade e prazer em ver a agonia de suas vítimas contribuíram para que Bram Stoker criasse um ser tão perverso. Quando foi publicado em 1897, “Drácula” não foi um best-seller imediato, embora as críticas fossem extremamente favoráveis, classificando Bram Stoker como sendo superior a Mary Shelley e Edgar Allan Poe. O romance tornou-se mais significativo para os leitores modernos do que foi para os leitores contemporâneos do autor, atingindo seu grande status lendário clássico ao longo do século 20, quando as versões cinematográficas apareceram. No entanto, alguns fãs da época vitoriana o descreveram como “a sensação da temporada” e “o romance de gelar o sangue do século”. Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, escreveu a Bram Stoker, afirmando, “Escrevo-lhe para dizer o quanto eu gostei de ler ‘Drácula’”.

A história de “Drácula” tem sido a base de incontáveis filmes e peças, ópera, balé, graphic novels e inúmeras outras mídias, sendo que o número de filmes que incluem referências a Drácula direta ou indiretamente chega a mais de 649 adaptações. A primeira adaptação para os palcos, encenada em 18 de maio de 1897, foi escrita e dirigida pelo próprio Bram Stoker e encenada uma única vez em Londres. A primeira adaptação para o cinema ocorreu em 1922 e envolveu uma questão judicial entre o diretor do filme e o espólio de Bram Stoker. F. W. Murnau, o diretor do filme, lançou a história com o título “Nosferatu: uma Sinfonia de Horror”, apenas alterando o nome do protagonista (de Drácula para Orlok) e transferindo o local da trama da Inglaterra para a Alemanha. O espólio de Stoker venceu a batalha judicial, sendo que todas as cópias existentes de “Nosferatu” deveriam ter sido destruídas, entretanto, um pequeno número de cópias sobreviveu até os dias de hoje, sendo considerado um clássico do cinema de terror. Contudo, a versão mais conhecida e famosa da história de Drácula foi realizada pela Universal em 1931, estrelada por Bela Lugosi e dirigida por Tod Browning. As versões mais recentes para o cinema são o icônico filme, dirigido por Francis Ford Coppola em 1992, “Drácula, de Bram Stoker”, estrelado por sir Anthony Hopkins, Gary Oldman, Winona Ryder e Keanu Reeves e “Drácula 3D”, dirigido por Dario Argento e exibido no Festival de Cinema de Cannes, em 2012.

A Editora Landmark inclui ainda nesta edição bilíngue de luxo em capa dura do romance “Drácula”, um primeiro capítulo excluído por Bram Stoker quando da publicação de seu romanece em 1897. Mais tarde, este capítulo, rebatizado como o conto “O Convidado de Drácula – Dracula’s Guest”, seria publicado em 1914 pela viúva de Stoker e, desde então, a crítica literária vem discutindo a importância deste conto como um capítulo introdutório de “Drácula”. A história gira em torno de um viajante inglês não identificado, associado pela crítica a Jonathan Harker, nos momentos anteriores à sua partida para a Transilvânia, onde o mesmo se depara com acontecimentos sobrenaturais, forças desconhecidas e criaturas fantásticas. “REVISTA DE CINEMA UOL