
Evgeny Zamyatin (1884-1937) foi engenheiro naval e escritor russo. Envolveu-se cedo com o movimento revolucionário, sendo preso em 1905, mas concluiu os estudos e trabalhou na construção de navios-quebra-gelo. Paralelamente, iniciou carreira literária com contos satíricos que criticavam a burocracia, o militarismo e o dogmatismo ideológico. Durante a Primeira Guerra Mundial, viveu na Inglaterra, experiência que ampliou sua visão da modernidade.
Após 1917, manteve independência crítica em relação ao regime bolchevique. Em 1920 escreveu “Nós”, considerado o primeiro grande romance distópico moderno, retratando uma sociedade totalitária que suprime a liberdade individual. Censurado na URSS, o livro circulou apenas no exterior e tornou-se referência fundamental
Faleceu em 10 de março de 1937, aos 53 anos, em Paris, França, vitimado por um ataque cardíaco, em circunstâncias modestas e quase esquecido pelo público russo.
O legado de Zamyatin, no entanto, não desapareceu. “NÓS” é hoje reconhecido como uma das obras fundadoras da ficção distópica moderna, tendo inspirado inúmeras obras do mesmo gênero, principalmente “1984” e “Admirável mundo novo”.
Sua visão antecipatória sobre a vigilância, a padronização e a manipulação ideológica ressoa intensamente no mundo contemporâneo. Além disso, sua trajetória simboliza o dilema de muitos escritores russos do século xx: o conflito entre fidelidade à arte e a pressão de um regime autoritário.
Combinando ironia, lucidez e coragem, Zamyatin permanece como exemplo de resistência intelectual. Sua vida e obra demonstram que a literatura pode iluminar os perigos de sistemas que sacrificam a liberdade em nome da ordem e que a voz individual, mesmo silenciada em seu tempo, pode ecoar por gerações.


