Descrição
O FANTASMA DE CANTERVILLE: THE CANTERVILLE GHOST pertence à categoria das paródias, ou seja, Wilde se apropria de elementos clássicos da literatura gótica e também de horror para imprimir comicidade a eles, por meio de recursos narrativos como o exagero e a ironia.
Publicado originalmente três anos antes de O retrato de Dorian Gray, em 1887, O FANTASMA DE CANTERVILLE: THE CANTERVILLE GHOST traz a história de um espectro britânico incapaz de assustar uma família norte-americana. Utilizando convenções das histórias de fantasma — tão populares na época — Wilde as subverte, e assim converte o espanto em riso, mas a análise não se esgota aí, é o confronto entre o novo e o velho mundos, exposto em tons cômicos. O fantasma representa elementos essencialmente britânicos (e, em menor medida, da Europa ocidental), como o tradicionalismo, a nobreza, a ligação com tempos definitivamente passados, a apreciação da arte. Já a família Otis simboliza características que até hoje soam tipicamente norte-americanas: é pragmática, materialista, cética, industrializada. A atmosfera de encantamento e a ausência de rupturas entre a realidade e o sobrenatural aproximam a noveleta do conto maravilhoso. Além disso, a infeliz trajetória do espectro acaba por acrescentar tonalidades de tragédia ao quadro. Trata-se, ainda, de uma “divertida crônica sobre as atribulações do Fantasma da Propriedade de Canterville quando seus corredores ancestrais se tornam o lar do Ministro Americano para a Corte de St. James”, conforme o próprio Wilde afirma em uma espécie de subtítulo para o texto. Uma das marcas das paródias é o exagero, e Wilde carrega nas tintas ao caracterizar as personagens da noveleta. A franqueza, que na fala do ministro beira o caricaturesco, mantém-se por todo o relato. Tanto o patriarca Otis quanto a esposa, a senhora Otis, o filho primogênito Washington e os mais novos, os gêmeos apelidados de “Estrelas e Listras”, personificam de forma quase estereotipada aqueles traços reconhecidamente estadunidenses. Entretanto, nem todos os Otis são indiferentes ao pobre fantasma. Virginia, a filha do meio, é a exceção. Livre, suave e “adorável como uma corça”, ela passa os dias a cavalgar, geralmente na companhia de seu pretendente, o jovem duque de Cheshire. É a única que não se envolve nos estratagemas contra o fantasma, e acaba assumindo papel central na conclusão da história, em que o tom cômico dá lugar a um comovente lirismo. A jovem Virginia torna-se, assim, a ponte entre os dois mundos, velho e novo. Cabe a ela devolver ao fantasma a sua essência em um desfecho carregado de melancolia, bastante apropriado para o tom de uma ghost story.
Revela-se aí outra das incontáveis faces da noveleta (e da obra) de Wilde: a sensibilidade que, assim como o riso e o espanto, nos torna humanos.